COM A PALAVRA… Professor Alfredo

Li recentemente um texto do livro Criatividade S.A., do escritor Ed Catmull, presidente da Pixar Animation, que me chamou atenção. Trata-se de um belo exemplo sobre como o distanciamento da hierarquia estimula a criatividade. Sempre acreditei nisso e procurei me distanciar das estruturas hierárquicas e dogmáticas. Estou também convencido de que isso funciona bem num ambiente em que predominam honestidade e sinceridade. A expressão sinceridade carrega menos conotações morais do que a palavra honestidade e costuma ser melhor aceita pelas pessoas e iremos usá-la. É assim que vejo o “experimento” CEI que vocês estão conduzindo. Uma poderosa ferramenta de criatividade é conhecida como “distorção”, em que pegamos algo já existente e o transformamos livremente para adequá-lo a um outro contexto. Foi isso que tentei fazer com o texto do Catmull e procurei correlacionar, com alguma liberdade poética, com o que vem acontecendo no CEI.

Conversa franca, debates animados, risos e amor. Se eu pudesse resumir uma reunião do CEI aos seus ingredientes mais essenciais, essas quatro coisas certamente estariam entre eles. Mas algum recém-chegado ao grupo com frequência percebe primeiro outra coisa: o volume. Rotineiramente, os membros do CEI ficam tão excitados nos seus sprints que falam uns por cima dos outros e as vozes tendem a se elevar. Admito que há vezes em que as pessoas de fora pensam estar testemunhando uma discussão acalorada, ou mesmo algum tipo de intervenção. Não é verdade, embora eu entenda sua confusão, que provém da incapacidade de compreender o objetivo do CEI. Um debate animado numa reunião do CEI não serve para uma pessoa predominar sobre as outras. Ele serve somente para descobrir a verdade para conduzir ao ato de criar.

Essa é uma parte da razão pela qual o Ramon não participa das reuniões do CEI – uma proibição consensual, baseada na crença de que sua presença iria tornar mais difícil a sinceridade. O poder inibe pessoas. Deve ter acontecido algo como: “Esse grupo trabalha bem em conjunto”, se disse a respeito do CEI. “Mas se você continuar a participar das reuniões, tudo irá mudar”. Ele concordou e, acreditando que o grupo soubesse mais que ele a respeito de narrativas associadas aos desafios, deixou a tarefa para eles. Na Fundep, o Ramon tinha a reputação de se envolver profundamente com os menores detalhes de todos os produtos, mas no CEI ele não acreditou que seus instintos fossem melhores que os das pessoas de lá e assim manteve-se fora. Isso mostra a importância da sinceridade no CEI. Ela supera a hierarquia.

De tudo que tenho aprendido, pequenos grupos, constituídos de 5 a 7 pessoas, conseguem um ambiente de relacionamento baseado na sinceridade, já que as pessoas conseguem estabelecer conexões fortes e, mesmo em situação em que todos falam simultaneamente, o ambiente para a sinceridade e criatividade são preservados. A sinceridade não consegue ser preservada quando o grupo começa a crescer e minha intuição me diz que, a partir de algo como doze participantes, surgem as condições para o aparecimento do “nós contra eles”, que é um ambiente não propício à criatividade. Ou como disse Catmull: “Existe uma verdade básica: as pessoas que assumem projetos criativos ficam perdidas em algum ponto do processo. É da natureza das coisas – para criar, é preciso internalizar e quase tornar-se o projeto por algum tempo, e essa fusão com ele é parte essencial da sua emergência”. É nesse ambiente confuso que o grupo, como no caso do CEI, atua para facilitar a emergência de algo novo, corroborando para a procura atual da Fundep de “estar em permanente processo de transformação”. É dessa forma que percebo como o CEI está funcionando.