
Joseph Beuys – um artista que praticou a “criatividade no mundo”. Cada ser humano, na expressão da sua liberdade, pode incorporar e levar adiante o impulso de mudança. E o último material neste sentido expandido da arte é: a própria sociedade; com os seus grupos e organizações. O que significa que a sociedade em geral pode ser vista como uma obra de arte, a “escultura social”, sobre a qual todos podem criar e agir. Logo, ser um agente de transformação é ter uma postura artística e modeladora da “plástica social”.
O projeto dos 7000 Carvalhos exemplifica a dinâmica relação efetivada por Beuys entre os territórios da paisagem e do corpo social urbano. A arte tem o movimento do crescimento das árvores e a estabilidade da pedra como elementos escultóricos importantes. O crescimento das árvores, circunstancia plástica, inverteu ao longo do tempo a relação dimensional iniciada com a rocha. Tomando o tempo necessário, o projeto mudou a paisagem da cidade e impactou os valores da população. Um modelo de operação que leva o poder transformador da arte para o campo da sociedade redirecionando a força criativa do artista para a realidade palpável, tão concreta e real quanto é desafiadora à mudança.

A postura criativa desse artista nos mostra uma construção teórica e prática que privilegia a organicidade e os contornos dados pelo fator humano quando disposto num território. O contato direto da obra de arte com o lugar de exposição e encontro com o público são elementos presentes importantes. Assim constitui-se a noção de pertença pela relação estabelecida entre artista, lugar e público ao fundir as proposições da arte contemporânea – Arte e Meio Urbano – e promover a compreensão de que não há distinção entre o artista e o homem comum e o fenômeno existencial do homem com o objeto.

O projeto dos 7000 Carvalhos nos serve, a esse ponto, como trabalho exemplar da dinâmica relação efetivada por Beuys entre os territórios da paisagem e do corpo social urbano. Ao todo, a proposta tomou cinco anos para completar-se com a plantação das 7000 mudas de carvalho enterradas ao lado de monólitos de basalto, por toda a cidade de Kassel. A pilha de pedras foi inicialmente depositada em frente ao Fredericianum, durante o evento da Documenta do ano de 1982. Após um longo período de debates sobre a relação homem-natureza, Beuys e seus colaboradores iniciam o trabalho que desmancha a pilha e remodela o entorno. A combinação da planta/arvore à rocha por ele escolhida estabelecem a dualidade entre a dureza e a maleabilidade dos materiais substancias essenciais. Beuys previa o movimento do crescimento da árvore e a estabilidade da pedra como elementos escultóricos importantes. O artista anuncia seu desejo de acompanhar o crescimento das árvores, circunstancia plástica que inverteria, ao longo do tempo, a relação dimensional iniciada com a rocha.
O projeto se configura como um extenso trabalho de arte pública. Realiza-se no espaço urbano externo, aponta para uma questão social de interesse comum, solicita a participação pública ao longo de um período de tempo que gera a pertença e a permanência da proposta para determinado lugar urbano que responde com anuência e audiência ao trabalho. Assim, é arte pública que trata de uma ação comunitária, da qual participaram o artista e diversos públicos envolvidos dentre o inicio, em 1982, até o final em junho de 1987, tempos depois da morte de Beuys. Tomando o tempo necessário, o projeto muda a paisagem da cidade comprovando seu caráter local, vinculado às crenças ou demandas pontuais de determinada população.
